Há um ano – mais especificamente no dia 14 de maio de 2013 – casais do mesmo sexo conseguiram o direito de celebrar a casamento civil nos cartórios brasileiros. O casamento gay no Brasil, alvo de tantos ataques de grupos conservadores, foi resultado de um processo jurídico e não político. Ele não saiu do Congresso Nacional e nem da Presidência da República, que durante a última década, evitou temas de relevância para a militância gay e quando o fez, encontrou forte oposição. Caso o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Joaquim Barbosa, não tivesse proposto uma resolução que, sendo aprovada, garantiu aos brasileiros do mesmo sexo o direito de casar-se, ainda estaríamos à mercê dos esquemas políticos do governo do PT, que nos últimos 11 anos, se aliou ao fundamentalismo evangélico e começou a negociar uma agenda política que não desagradasse os religiosos.
No governo presidente Luis Inácio Lula da Silva, embora o movimento LGBT tenha conseguido alguns avanços, como a instituição do Dia Nacional de Combate à Homofobia – 17 de maio -, a criação do Conselho Nacional de Combate à Discriminação – CNCD, a convocação e realização da I Conferência Nacional de Políticas Públicas e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – em 2008 -, e ainda o pontapé inicial para a inclusão do nome social de travestis e transsexuais em registros escolares e profissionais, ações importantes como a criminalização da homofobia e mesmo o casamento gay foram deixadas fora da pauta do governo.
Nos últimos três anos, com a presidente Dilma Rousseff no poder, pouco se progrediu na agenda básica LGBT, que inclui a promoção de políticas públicas para a igualdade de direitos, equiparação da homo-lesbo-transfobia ao crime de racismo (PLC 122) e desburocratização no reconhecimento das identidades trans. Ao contrário do que se esperava, Dilma manteve e ampliou as alianças de base fundamentalista, sendo fortemente criticada por militantes. Em 2011, por exemplo, mesmo sem está presente, a presidente foi vaiada na abertura da II Conferência Nacional LGBT por seus posicionamento apático as causas do movimento.
Meses antes do encontro, Dilma havia suspendido o programa Escola Sem Homofobia e o vetado o material didático anti-homofobia (kit gay), que foi produzido por seu Ministério da Educação. Sem razões claras para a suspensão do programa, a presidente deu aos jornalistas uma de suas falas mais controversas a respeito da agenda LGBT. “O governo defende a educação e a luta contra práticas homofóbicas, no entanto, não vai ser permitido a nenhum órgão do governo fazer propaganda de opções sexuais”, disse a presidente em entrevista coletiva a jornalistas no dia 26 de maio de 2011. “Eu não concordo com o kit, porque eu não acho que faça defesa de práticas não homofóbicas”, continuou, antes que uma jornalista a questionasse se ela havia assistido aos vídeos que integrariam o kit gay. “Eu não assisti aos vídeos todos”, respondeu.
Não é novidade que o veto ao kit gay foi fruto de pressão dos membros da Frente Parlamentar Evangélica ou bancada evangélica. Em matéria publicada no site do Jornal do Brasil à época, o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) afirmou que a bancada estava disposta a utilizar o caso do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, como forma de pressionar o governo ao veto. Isso posto, é fácil entender as afirmações contraditórias de Dilma que defende um governo que é contra a homofobia somente no discurso, mas que renega o assunto quando o que está em jogo é “camaradismo” e os interesses políticos. Neste caso, Dilma cedeu aos evangélicos que ameaçavam Palocci, que já havia sido exonerado pelo presidente Lula em 2006, quando era Ministro da Fazenda, por ser acusado de chefiar um esquema de corrupção na época em era prefeito de Ribeirão Preto-SP. Após várias denúncias de enriquecimento ilícito, Palocci deixou a Casa Civil em junho de 2011. O veto do Kit gay pôde até acalmar os evangélicos, mas não dissipou as acusações de corrupção.
“Governo não fará propaganda de opções sexuais”
Quando o assunto é o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122, que roda pelo Congresso desde 2006 e faz uma alteração na Lei do Racismo para criminalizar a homo-lesbo-transfobia, encontramos o medo da presidente de não ser reeleita em 2014, ao perder o apoio das alianças com legendas de expressão evangélica como PSC, PR e outros. Para que entendamos melhor essa dinâmica do relacionamento entre a Presidência da República e a bancada governista no Congresso, é importante lembrar que em dezembro do ano passado, a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, sobre o comando da ministra Ideli Salvatti, orientou os senadores da base a não votar o PLC 122 antes das eleições, exemplificando mais uma jogada, onde o discurso petista de combate as opressões se perdeu dentro de uma negociata política.
“Quando um político coloca os Direitos Humanos acima de moralismos baratos, ele mostra uma forte evidência de ter retidão de caráter, na medida em que abre mão de um discurso fácil por um discurso verdadeiro, ainda que não tão popular”, traz um dos textos da Cartilha Orientativa LGBT para as eleições 2014. A despeito dos avanços em outras áreas da política brasileira, o governo petista tem usado a agenda LGBT como moeda de troca, sem se importar com o crescente aumento do número de mortes relacionados a homo-lesbo-transfobia. No início do ano, o grupo Gay da Bahia apresentou em seu relatório anual de crimes contra gays, travestis e lésbicas, um total de 312 pessoas LGBT que foram assassinados no Brasil no ano passado, representando uma média de – preste atenção – uma morte a cada 28 horas.
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